12.7.04

Cientistas portugueses lá fora voltam por três dias

DN, 12-07-2004 - F. N.
Vêm dos Estados Unidos e de França, do Reino Unido, da Holanda ou da Bélgica. E muitos já cá estão. Alguns são seniores e referências nas suas áreas de investigação. Outros são jovens promissores mas ainda não conseguiram um lugar estável para trabalhar. São portugueses e têm em comum o gosto e a profissão: fazer ciência. Coimbra recebe-os a partir de hoje, no 4.º encontro da diáspora dos cientistas portugueses. Que é como quem diz, do Fórum Internacional de Investigadores Portugueses.

Iniciada em 1995, esta é uma aventura que já deu o seu contributo para o desenvolvimento da ciência em Portugal. O principal objectivo da iniciativa, que se prolonga até quarta-feira, é pôr em contacto quem está fora com quem está dentro, para troca de experiências e, até, para colaborações que podem fazer a diferença.

A par da discussão sobre questões científicas puras e duras nas áreas da química, da física, da nanotecnologia ou da robótica, estarão em foco neste quarto encontro os caminhos e os desafios que se colocam à investigação em Portugal.

Um desses desafios, talvez um dos mais inadiáveis, «é a criação de emprego científico para os jovens mais brilhantes e promissores», afirmou ao DN o físico Carlos Fiolhais, presidente da comissão científica do encontro. E sublinha que «são estes jovens, que garantindo a renovação das gerações, podem garantir a excelência no futuro».

Para o físico de Coimbra, «não se trata de dar emprego a toda a gente, até porque é positivo que alguns possam aproveitar oportunidades no estrangeiro, se assim desejarem», diz. «O problema existe quando estes jovens não têm possibilidade de escolha e, pretendendo ficar no País, não o podem fazer porque não têm lugar. Isso é uma violência», nota Carlos Fiolhais.

Outro problema em debate, que será hoje tema de uma mesa redonda, é o do ensino das ciências em Portugal e o papel das universidades nessa matéria. A discussão promete ser animada: com a Física e a Química remetidas para disciplinas de opção pela reforma curricular do secundário, que entra em vigor a partir de Setembro, haverá certamente muito a dizer.

Sobre o tema «A Contribuição Portuguesa à Estratégia de Lisboa», a conferência de abertura será proferida pelo investigador Manuel Paiva, que dirige o Laboratório de Física Biomédica da Universidade Livre de Bruxelas. Manuel Paiva conta «propor ao ministério da Ciência que faça o levantamento de todos os cientistas portugueses no estrangeiro, de forma que estes possam contribuir para fazer escola de boas práticas no País, ajudando Portugal a integrar-se cientificamente melhor na Europa», como afirmou ao DN.
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Futuro da ciência estará em foco
O Fórum Internacional de Investigadores Portugueses realizou o seu primeiro encontro em Aveiro, em 1995, e desde aí não parou de crescer. Organizado este ano na Universidade de Coimbra, a iniciativa contará com cerca de 200 participantes. O programa inclui conferências científicas sobre matérias tão futuristas como nanotecnologia e robótica e mesas redondas para partir pedra sobre os bloqueios do sistema científico em Portugal. Na sua conferência de abertura, sobre a estratégia de Lisboa, que prevê 3% do PIB para a ciência, em 2010, nos países da UE, o investigador Manuel Paiva deixará um alerta, como adiantou ao DN: «Para um país pequeno como Portugal, insistir na divisão de 1% de investimento público e 2% do privado não faz sentido, já que não há potencial industrial no País que absorva de um dia para o outro um aumento tão drástico». A seis anos da meta, o investimento privado em ciência no País é de 0,2% do PIB. «Encorajar as empresas a aumentar o investimento em I&D sem que haja um potencial importante de investigadores, não resultará», prevê Manuel Paiva, para quem «esse potencial deve ser criado, sobretudo, com os fundos públicos».